segunda-feira, 12 de novembro de 2018

A magia do interclasse

Um torneio de futebol movia uma rivalidade intensa na 5° série, também conhecido como Torneio Interclasse. Durante os recreios as turmas da quinta série costumavam se dar bem, mais como um grupo indefeso que ficavam em bando para tentar não levar um soco gratuito de algum repetente de 16 anos. Mas quando se tratava de futsal não tinha mais amizade, a sala vizinha era como nosso maior inimigo, agíamos como se fossemos policiais e as outras turmas um bando de corinthianos em uma praça.

Minha turma era bacana, mas todos nós sabemos que no interclasse vence a equipe que tiver o maior número de repetentes barbados. Nossa sala tinha até cheerleaders de 11 anos, era um grupo organizado e tínhamos nosso grande representante: um cara de 15 anos que não assistia nenhuma aula e passava o tempo fumando maconha no intervalo e atormentando outras crianças. Esse cara era a grande esperança do nosso time vencer aquele interclasse, e ele nos deu a palavra que jogaria.

Os outros integrantes do time eram razoavelmente bons... tudo bem eles eram horríveis, apenas dois se salvavam, e eu entro na história como o goleiro. No início do interclasse uma notícia já começou nos abalando: o valentão da nossa turma simplesmente decidiu que não estava afim de jogar, e ficamos desfalcados e fomos obrigados a chamar o menor aluno da sala, que tinha 11 anos assim como nós, porém aparentava ter uns 8.

O grande evento finalmente teve início e nós tivemos muita sorte, os únicos dois bons atletas mirins estavam inspirados e eu simplesmente no auge do meu momento como goleiro, não deixava passar nada, inclusive cheguei até a rasgar uma calça pra defender uma bola - talvez eu tivesse apanhado quando cheguei em casa naquele dia - mas no momento eu fui o herói para a minha equipe e apenas isso importava.

Milagrosamente conseguimos chegar até a semi-final, a confiança estava altíssima, sabíamos que aquele era um dia especial, a gente podia ganhar aquele fucking torneio, até aparecer a temida 5° C, eles tinham pelo menos 3 repetentes gigantescos e mais 2 carinhas que treinavam em uma escolinha de bairro, que na quinta série era equivalente a um jogador profissional de futebol. Logicamente foi a nossa partida mais difícil, eu continuava mais inspirado do que nunca, e chegamos até a marcar um gol, a glória se aproximava daquele time juvenil.

Mas logo no início do segundo tempo aconteceu o inimaginável, um chute cruzado e rasteiro que fez com que eu e meus 40 kg saltasse em direção da bola, e nisso tudo acabei batendo o joelho (já contundido no passado) forte naquela quadra de cimento fosco - e o pior de tudo é que a bola foi na trave e eu sequer toquei nela. Era o fim da jornada para mim, tive que sair pois não aguentava de dor, meus colegas ficaram preocupados comigo, mas infelizmente tive que ser substituído por Gustavo, o rapazinho mais mongoloide da turma (que anos mais tarde passaria a ter muito sucesso por sua semelhança com o Justin Bieber).

A 5° C não tomou conhecimento da nossa fragilizada 5° A, era um chute atrás do outro, o reserva Gustavo simplesmente olhava aquela bola entrar no gol como se fosse algo natural, nosso time desmoronou em apenas 4 minutos, tempo suficiente para os nossos rivais fazerem 4x1 e se classificarem para a final e consequentemente ganhando o cobiçado troféu do interclasse de 2008.

No ano seguinte conseguiríamos a consagração ao se vingar da mesma 5° C que no momento já era 6° C, com um gol meu inclusive. Mas naquele momento de derrota eu apenas ouvia "DAVA PRA JOGAR AINDA, NEM FOI NADA, PIPOQUEIRO" - dizia o garoto que aparentava ter 8 anos. A grande lição desta história é: não pule para pegar uma bola em uma quadra de cimento fosco, a sua calça pode rasgar e a conversa com a sua mãe ao chegar em casa não será nenhum pouco agradável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário